Militares chineses buscam conhecimento brasileiro em treinamento de selva

Detalhes da cooperação com Pequim não foram acertados. Mas o reconhecimento internacional da eficiência do EB no treinamento de tropas não é novidade


Oficiais chineses pediram assistência ao Exército Brasileiro para desenvolverem suas capacidades de combate na selva. A informação é do próprio EB.

Em relatórios emitidos em julho deste ano, o comandante do the Centro de Instruçao de Guerra na Selva (CIGS), Col. Alcimar Marques de Araújo Martins, indica que a China fez arranjos recentes para enviar um grupo de oficiais e sub-oficiais para serem treinados no Centro, mas a iniciativa foi cancelada em favor de outra abodagem.

“Agora eles nos pediram para enviar alguns de nossos instrutores especializados em combate na selva para auxiliá-los a desenvolver seu próprio programa de capacitação na China”, explica o coronel. Não há informação de quando essa colaboração pode acontecer nem do número de instrutores envolvidos.

Ainda não se sabe porque Pequim está expandindo suas iniciativas de treinamento em ambiente de selva, mas o país possui porções extensas de fronteira cobertas por selva demarcando limites com vários vizinhos.

O CIGS comemora 50 anos em 2015 e já treinou mais de 6 mil oficiais e sub-oficiais ao longo desse período – 500 deles estrangeiros. Apesar de a maioria desses militares do exterior vir de nações vizinhas ao Brasil, cerca de 27 americanos e 100 europeus, especialmente franceses, realizaram o treinamento. Até o momento apenas um aluno na história do curso veio da Ásia.

O modus operandi do CIGS consiste em “treinar instrutores” em cursos com no máximo 100 a 120 alunos realizados até três vezes por ano. A programação de dez semanas (oito para o curso de oficiais superiores) ensina uma gama ampla de técnicas de guerra na selva, desde sobrevivência e orientação, passando por treinos de fogo e movimentação, técnicas de incursão em ambiente ribeirinho e procedimentos de higiene em ambiente de selva. Uma vez formados, os militares voltam a suas unidades e conduzem o mesmo treinamento com suas tropas.

Dentro do EB, o Comando Militar da Amazônia (CMA) é responsável por pelotões especiais alocados em regiões de fronteira e que realizam patrulhas de até um ano, onde os militares não oferecem apenas segurança, mas serviços sociais, de saúde e educação a comunidades remotas. Assim, o CIGS tem um papel muito importante no treinamento de pessoal na área de saúde, bem como no diagnóstico e tratamento de uma variedade de doenças endêmicas da região de selva.

Esses pelotões são peça central na estratégia de presença e dissuasão nos mais de cinco milhões de quilômetros quadrados da Bacia Amazônica – área de jurisdição do CMA. “Atualmente temos 24 desses pelotões, mas nosso programa de transformação pede um aumeno para 52 e também adicionaremos uma quinta Brigada de Infantaria de Selva”, diz o Major Antoine de Souza Cruz, da sede do CMA em Manaus.

A cooperação com estrangeiros também é forte em outras estruturas de treinamento do Exército Brasileiro. Dentro da Brigada de Infantaria Para-Quedista, baseada na Vila Militar, próxima ao Rio e Janeiro, conta com programas de treinamento como o Precursor Para-Quedista, que já coopera com nações vizinhas e mesmo além, segundo o vice-comandante da companhia Precursou, Capt. Gedeel Machado Brito Valin.

“O curso Precursor se tornou referência na América do Sul. Hoje temos um capitão preparando e conduzindo a primeira edição para a Força Aérea do Paraguai, e no ano que vem continuaremos esse programa, além de iniciar colaboração semelhante com a Argentina e o Peru”, explica.

O capitão diz ainda que a expertise brasileira não é reconhecida apenas na América do Sul. “Após a visita do Precursor, o Exército do Canadá nos convidou a enviar um de nossos instrutores para o Centro de Combate das Forças Canadenses para participar como instrutor strangeiro na versão deles do curso Precursor. Também tivemos um instrutor canadense conosco no ano passado e neste ano teremos a segunda colaboração com os canadenses”, descreve.

Como parte do aprimoramento constant das instalações para treinamento e da implementação de soluções mais integradas, o EB instituiu recentemente um sistema de simulação com a finalidade de fornecer ambiente de treinamento sofisticado para comandantes e tropas em nível de divisão.

Conhecido como COMBATER, o programa é baseado no SWORD, sistema baseado em inteligência artivicial para geração de cenários e “jogos” de guerra. Desenvolvido pelo grupo MASA, de Paris, o SWORD foi adaptado sob encomenda do EB para se adequar à doutrina tática da instituição, bem como atender diretamente às exigências de treinamento.

Em julho passado, comandantes e pessoal da 3a Divisão do Comando Militar do Sul – uma das maiores do EB – participaram da Operação Liberdade Azul, um exercício em nível de Divisão envolvendo quatro brigadas que conseguiu com sucesso explorar a capacidade do sistema COMBATER até o limite.

As manobras usaram todas as 128 licenças fornecidas pela MASA no contrato inicial de aquisição, e o sistema coordenou, a partir do centro de comando, pessoal e unidades treinando “ao vivo” em campo. As “forças de oposição”, compostas por parte da própria Divisão, também foram orientadas e coordenadas pelo sistema de realidade virtual.

 “Exercícios como esse, com apoio dos recursos que o COMBATER oferece, são uma oportunidade ideal para crescermos. Gostamos de ver onde erramos aprender com esses erros”, afirmou o Gen, José Carlos Cardoso, comandante da 3ª Divisão. “E é importante que façamos isso. Como nosso chefe de estado-maior do Exército disse a respeito do processo de transformação pelo qual estamos passando, o objetivo é mudar de ideias”.


Fonte: DefesaNet
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